XIII Abave
Eu assisti a mesa “Inteligência Artificial e Avaliação Educacional” que aconteceu na programação da XIII Reunião da ABAVE
Quem participiou da mesa redonda:
- Maria Helena Guimarães de Castro (Coordenador(a))
- Priscilla Albuquerque (Coordenador(a))
- Ig Ibert Bittencourt (Expositor(a))
- Thomaz Veloso (Expositor(a))
- Jairo de Souza (Expositor(a))
- Alan Valadares (Expositor(a))
Minhas notas:
Inteligência Artificial e Avaliação Educacional: Achados, Desafios e Perspectivas
Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) vem ganhando espaço nas discussões sobre educação, não apenas como ferramenta de automação, mas como aliada estratégica na avaliação da aprendizagem.
Mais do que reduzir custos e aumentar a eficiência, a IA abre caminho para novas formas de avaliar competências, integrando dados, personalização e inovação pedagógica.
Este artigo reúne achados de pesquisas recentes, experiências internacionais, iniciativas brasileiras e a análise da pesquisadora Maria Helena, que destacou tanto o potencial quanto os desafios de aplicar a IA em avaliações educacionais.
1. Perguntas centrais
Alguns questionamentos norteiam o debate sobre IA e avaliação:
- Em que medida a IA pode apoiar a melhoria da aprendizagem e a equidade nos sistemas de ensino?
- Como a avaliação em larga escala pode se beneficiar da IA, reduzindo custos, aumentando eficiência e confiabilidade?
- De que forma a IA pode apoiar professores no planejamento pedagógico e no acompanhamento das aprendizagens?
- Como a IA generativa pode ser utilizada na criação de bancos de itens interativos e na avaliação de competências mais complexas?
2. Objetivos da pesquisa
A pesquisa apresentada buscou:
- Mapear experiências nacionais e internacionais de uso da IA em avaliações educacionais.
- Sistematizar práticas já em andamento e suas lições aprendidas.
- Propor recomendações para adoção responsável no contexto brasileiro.
Três frentes de trabalho foram articuladas:
- Análise bibliográfica – levantamento de mais de 60 documentos técnicos e acadêmicos.
- Entrevistas – com especialistas e gestores nacionais e internacionais.
- Workshops – com participação de organizações como a OCDE, universidades estrangeiras e especialistas em inovação educacional.
3. Experiências internacionais
OCDE / PISA
- Correção automatizada de provas abertas e redações.
- Tradução de testes para até 70 idiomas, reduzindo custos e tempo.
- Desenvolvimento de robôs interativos para avaliação de pensamento criativo.
- Planejamento da avaliação “Viver no mundo digital” (2029), com agentes de IA acompanhando individualmente cada estudante.
Boston College (TIMSS & PIRLS)
- Itens abertos e interativos para avaliar escrita e resolução colaborativa em matemática.
- Pesquisas metodológicas sobre avaliação de raciocínios múltiplos.
Cambium Assessment (EUA)
- Líder em provas digitais adaptativas nos estados americanos.
- Evolução a partir do American Institute of Research.
Portugal
- Correção automatizada de questões abertas em provas de larga escala.
- Dificuldades com variabilidade linguística e desconfiança social.
Austrália (Leon Furze)
- Integração entre avaliação formativa e somativa.
- Reflexões sobre ética, desigualdades e uso pedagógico da IA.
China
- Experimentos em escala nacional, descritos como “inacreditáveis” pela rapidez e profundidade da aplicação de IA em avaliações.
4. Principais achados
A fala de Maria Helena e os dados levantados apontam para um quadro em transformação:
- Predomínio da avaliação formativa: IA como apoio a diagnósticos, feedbacks personalizados e acompanhamento contínuo.
- Aplicações em larga escala: ainda incipientes, mas já presentes em correção automatizada, tradução de provas e bancos de itens.
- Dados mais granulares: análise do tempo de resposta, padrões de raciocínio e logs de interação, permitindo compreender como os alunos chegam às respostas.
- Benefícios claros:
- Eficiência – redução de custos e tempo em elaboração e correção.
- Personalização – avaliação adaptada ao nível do estudante.
- Engajamento – alunos mais motivados em plataformas digitais.
- Feedback qualificado – relatórios mais ricos e úteis para professores.
5. Desafios
Apesar dos avanços, os obstáculos são significativos:
- Validade e confiabilidade – dúvida se as avaliações baseadas em IA são equivalentes às humanas.
- Formação de professores – necessidade de letramento em avaliação e em tecnologias.
- Resistência cultural – receio de governos e sociedade em aceitar a mudança.
- Questões éticas – segurança de dados, privacidade e impacto pedagógico.
- Infraestrutura desigual – limitações tanto no Brasil quanto em países desenvolvidos.
- Limites metodológicos – necessidade de superar a Teoria de Resposta ao Item (TRI), que não contempla múltiplas respostas criativas.
6. Iniciativas brasileiras
O Brasil também avança com iniciativas relevantes:
- Fundação Lemann: apoio a startups como Lizedu, além de projetos de avaliação adaptativa em redes escolares.
- Instituto Ayrton Senna: atuação junto à OCDE em experimentos com avaliação da criatividade.
- Universidade Federal do Ceará: desenvolvimento de plataformas de avaliação formativa adaptativa.
- Parcerias com universidades e startups em soluções digitais para acompanhamento contínuo da aprendizagem.
7. Tendências futuras
Um ponto central destacado é a integração entre avaliações formativas e somativas.
Se antes eram vistas como dimensões separadas, hoje a IA possibilita sua articulação, permitindo que dados de acompanhamento contínuo alimentem a avaliação externa em larga escala.
Outra tendência é o foco em competências complexas: criatividade, pensamento crítico, colaboração e resolução de problemas. A IA já está sendo testada para capturar não apenas o resultado final, mas o processo de raciocínio dos alunos.
O futuro também aponta para avaliações mais interativas, digitais e adaptativas, capazes de refletir melhor os desafios do século XXI.
8. Conclusão
A inteligência artificial inaugura um novo paradigma na avaliação educacional.
Ela não é apenas uma ferramenta de automação, mas um meio de repensar o que avaliamos, como avaliamos e para quê avaliamos.
O potencial de ganhos em eficiência, personalização e engajamento é enorme, mas o caminho exige enfrentar desafios de validação científica, ética, formação docente e infraestrutura.
Como lembra Maria Helena, o que está em jogo é mais do que medir melhor:
“Trata-se de aprender de forma diferente — mais interativa, criativa e conectada com o mundo digital.”
A pergunta que permanece é: estamos preparados para transformar a avaliação junto com a aprendizagem?
✍️ Este artigo foi escrito a partir de transcrições de apresentações e da fala de Maria Helena em setembro de 2025, reunindo achados de pesquisas, workshops e experiências internacionais e brasileiras.