Legado Digital

September 13, 2023

Hoje eu estava passeando por algumas newsletters que se acumulam na minha caixa de entrada no e-mail… quando em uma leitura despretenciosa no ‘Diaries of Note’ eu comecei a relembrar, não sei exatamente o porquê, da minha experiência em acessar a internet pela primeira vez no final dos anos 90.

Diferente da newsletter que me inspirou o pensamento, não tenho um diário que registra esses momentos, mas lembro muito de como foi bom ser um aficionado por tecnologia, um nerd, nesse período. Publicar algo significava combinar um conjunto de habilidades, desde o básico de programação ao bê-á-bá do inglês para conseguir hospedar um conteúdo online, seja no Geocities ou equivalente. Lembrei que criei um site junto com colegas no Ensino Médio em um serviço chamado hpG (Home Page Grátis), serviço que fez algum sucesso no Brasil.

Nessa época ainda dividiamos nossa atenção com buscadores pré-Google, como o “Cadê?!”, e o Yahoo! ainda era considerada uma “bigtech” que todos admiravam. Logo depois, entraram em cena as brigas de titãs das redes sociais: MySpace, Facebook, Twitter/X, Instagram… E a internet, ela se transformou. E não só ela, nós e toda a sociedade mudamos.

Enquanto pensava nesses nomes, tentei lembrar do conteúdo digital que produzi desde então.

Será que você se lembra do seu primeiro ‘tweet’’ no Twitter ou ‘post’ no Facebook?

E aquela foto, quase que esquecida, de 2008 no Fotolog?

A efemeridade não é exclusiva da nossa memória; ela também ocorre no espaço virtual. Enquanto antigamente podíamos encontrar um caderno antigo numa caixa e rememorar conteúdos de 20 anos atrás, na era digital, as coisas são diferentes. O conteúdo que produzimos online está mais propenso a desaparecer, principalmente porque não temos controle sobre a infraestrutura que guarda essas informações.

Não existe uma solução pronta para preservar nosso legado digital, mas o tópico tem aparecido pra mim com destaque de diversas maneiras.

A empresa Automattic, desenvolvedora do Wordpress, por exemplo, recentemente lançou um plano com suporte de até 100 anos. David Hansson, responsável por produtos como o Basecamp e Hey, tem feito críticas contundentes às grandes empresas de tecnologia. Ele aponta que muitas delas não têm um compromisso com a preservação a longo prazo e, muitas vezes, descontinuam seus produtos sem consideração adequada pelos seus usuários.

Você estaria disposto a desembolsar 39.000 dólares de uma vez só (equivalente a R$ 1.9000,00/ano) para ter esse serviço?

Preservar informações e dados na era digital não é algo simples, mesmo.

Dada a falta de padrão e mudanças de mídias e formatos, é muito dificil ter um sistema que seja a “prova do tempo”. Sabe aquele “backup” em CD-ROM? Então…

Com isso em mente, para garantir que alguma parte do nosso legado digital esteja acessível para as gerações futuras, eu tenho considerado três princípios-chave para a preservação digital:

1) Controle e Acesso Direto: Tenha controle sobre onde suas informações são armazenadas. Isso significa ter acesso direto à infraestrutura de armazenamento, garantindo que você possa recuperar, modificar ou migrar seus dados conforme necessário.

2) Formatos de Arquivo Abertos: Opte por formatos que não sejam fechados (ex. docx) e que tenham ampla aceitação na comunidade. Isso assegura que, mesmo que o software ou plataforma original desapareça, ainda haverá ferramentas disponíveis para acessar e interpretar esses dados no futuro.

3) Redundância: Implemente sistemas que possuam cópias de segurança ou backups em locais múltiplos e distintos. A redundância ajuda a proteger contra perda de dados devido a falhas de hardware, desastres naturais, ou outros eventos imprevistos.

Tendo em vista esses princípios, estive refletindo sobre a arquitetura tecnológica ideal. Um bom exemplo é optar por formatos de texto aberto, como .txt ou markdown, que permitem a edição em qualquer editor de textos, assim como estou fazendo nesta página. Outra prática que tenho usado é armazenar versões do conteúdo em diferentes locais, como o que faço com este site, que está hospedado no Github e tem seu histórico de versões controlado pelo git.

Afinal, em vez de ter uma resposta, estou cheio de dúvidas. Gostaria de saber se alguém aqui já usou (ou usa) alguma estratégia. Conta aqui ou me escreva em maluta@hey.com

Dica: como exportar o conteúdo das bigtechs

Ao estar logado nessas plataformas, visite as URLs e peça os arquivos. O processamento do seu pedido pode levar de algumas horas a dias. Assim que estiver pronto, você receberá um e-mail com o link para baixar os arquivos.