Primeiras impressões usando o Ray Ban Meta

May 4, 2024

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e algumas reflexões sobre aplicações em educação (e sim, tem muita IA envolvida)

Faz algumas semanas que estou experimentando o novo óculos fruto da parceria da EssilorLuxottica (dona da Ray-Ban) e a Meta, que surgiu combinando o design icônico da Ray-Ban Wayfarer, criado em 1956, com as tecnologias atuais desenvolvidas na Meta.

Nesse artigo eu vou trazer uma perspectiva mais pessoal do que eu imagino ser os primeiros usos interessantes na educação. Agora se você quiser ver uma análise completa do Ray-Ban Meta Wayfarer, existem ótimas análises e reviews por aí, mas para quem não conhece, vai uma rápida explicação: estamos falando de um óculos aparentemente como qualquer outro, a diferença é que ele é equipado com muita, mas muita, tecnologia! Por exemplo, na armação existem duas câmeras que passam despercebidas pela maioria das pessoas e que permite capturar fotos e vídeos em alta definição.

O Wayfarer é uma aposta da Meta em uma abordagem mais discreta e integrada. Para garantir que as gravações não passem despercebidas, a Meta adicionou um LED próximo à câmera que pisca sempre que uma foto ou vídeo é capturado. Além das câmeras, o óculos Wayfarer também possui funcionalidades de áudio. Eles estão equipados com um microfone que permite ao usuário controlar o dispositivo via comando de voz, tornando a interface mais intuitiva. Além disso, pequenos alto-falantes embutidos na armação possibilitam que o usuário ouça respostas sem a necessidade de olhar para uma tela. Perceba que não mencionei nada sobre telas ou interfaces de realidade virtual (XR), já que ele não possui nenhuma. A proposta é diferente, ele se diferencia de produtos como o VisionPro da Apple ou o Quest da Meta, que são voltados para realidade virtual. Se eu parasse o texto por aqui, eu já teria motivos para entrar em muitos casos de uso interessantes. Veja um exemplo passando pela catraca do metrô em São Paulo.

A princípio, o “cliente ideal” do Ray-Ban Meta é uma pessoa que curte tirar fotos e vídeos. Ele é ótimo para criar conteúdo com as “mãos livres” e também foi minha primeira motivação para desembolsar 300 dólares (+ impostos) 💸

E quando digo “primeira motivação” é porque eu também estava animado com a possibilidade de explorar as funcionalidades de inteligência artificial prometidas pela Meta. É verdade que não se deve adquirir um produto contando apenas com futuras atualizações, mas, neste caso, eu tive sorte. Com o anúncio do Llama3, pela Meta, a empresa não só apresentou modelos de inteligência artificial mais avançados, como também introduziu o suporte para multimodalidade. Isso significa que agora é possível processar diferentes tipos de mídia, incluindo imagens e vídeos, além de texto. Poucas semanas após o lançamento, diversos produtos da Meta, como o Wayfarer, começaram a incorporar essas novas capacidades.

Integração com Inteligência Artificial

Hey Meta, what are you seeing now?

O óculos pode agora responder à perguntas contextualizadas como “O que você está vendo agora?”, capturando imagens do ambiente imediato. Isso não só amplia o potencial de uso em situações cotidianas, mas também abre possibilidades para inúmeras aplicações, incluindo áreas como acessibilidade. Vou tentar ilustrar no diagrama abaixo como funciona a experiência com o Ray-Ban Meta integrado com a Meta AI.

Fluxo de uso das funcionalidades de IA no Ray-Ban Meta

No Meta View, aplicativo que integra o óculos com o smartphone, é possível acessar o histórico de interações.

É possível acessar o histórico de interações no aplicativo Meta View

Reflexões (preliminares) sobre aplicações em educação

Mesmo sabendo que o Ray-Ban Meta não foi originalmente projetado como um “produto educacional”, não é difícil começar a imaginar alguns casos de uso aplicado num contexto de ensino e aprendizagem, e é sobre isso que tenho refletido. Abaixo eu trago alguns exemplos de ideias do que eu acredito que sejam usos interessantes com o software atual.

IMPORTANTE: As imagens foram inseridas apenas para mostrar o histórico de conversas (que fica salva no aplicativo). Em todos os exemplos abaixo, eu fiz solicitações por comandos de voz e recebi respostas em áudio.

1️⃣ Fazer perguntas sem grandes trocas de contexto

Imagine que um aluno está lendo um livro físico ou artigo impresso e precisa pesquisar rapidamente uma informação sobre um tópico específico. Normalmente, você usaria um computador ou celular para fazer essa busca. No entanto, com o Ray-Ban Meta, você pode simplesmente ativar via comando de voz e fazer sua pergunta.

2️⃣ Perguntar sobre o mundo físico

Os estudantes podem parar diante de lugares, objetos ou itens diversos e solicitar informações mais detalhadas. Se tiver curiosidade, ouça como é uma resposta em áudio aqui.

3️⃣ Facilitar o registro de atividades

Durante aulas práticas ou atividades ao ar livre, estudantes podem gravar experimentos ou procedimentos sem usar as mãos. Esses vídeos podem posteriormente ser usados para reflexão ou para criar um portfólio digital de seu trabalho, facilitando o aprendizado e eventualmente avaliações.

4️⃣ Tradução de idiomas

Embora a tradução para o português ainda não esteja disponível, nos testes iniciais que realizei, consegui traduzir o conteúdo do inglês para as línguas atualmente suportadas. Isso pode ser bastante útil para o ensino de idiomas.

🙌🏽 Lista de desejos

O software ainda não entrega muito bem o que vou escrever abaixo, mas são ideias que eu gostaria de compartilhar sobre o potencial desse tipo de tecnologia.

5️⃣ Melhorar a acessibilidade de alunos com deficiência visual

Para alunos com deficiência visual, o óculos poderia oferecer descrições auditivas do que está sendo visto, tornando a experiência das aulas mais inclusivas. Talvez uma parceria com a Be My Eyes possa ajudar a acelerar o produto nessa direção.

6️⃣ Apoio nos estudos

Eu realizei alguns testes com o objetivo de resolver questões matemáticas. Embora haja dificuldades em reconhecer minha caligrafia, consegui, através de algumas tentativas e interações, chegar à resposta correta.

Pedindo para o Ray-Meta me ajudar a encontrar o valor de ‘x’

7️⃣ Tradução em Tempo Real

Um óculos como o Ray-Ban Meta poderia traduzir automaticamente o que o professor ou colegas estão dizendo em tempo real. Isso seria particularmente útil em ambientes onde alunos que falam diferentes línguas possam entender as aulas em seu próprio idioma instantaneamente, o que facilita uma melhor inclusão e compreensão.

Pontos importantes a considerar

Estamos na primeira geração de um dispositivo, ou seja, é natural que existam limitações e/ou restrições. Compartilho aqui uma lista do que me chamou mais a atenção:

  • Dependência da internet: todas essas funcionalidades de IA que eu citei anteriormente dependem da conexão Bluetooth com um smartphone que precisa estar conectado com a Internet.
  • Autonomia da bateria: com uso intensivo, ele só dura algumas horas (dificilmente um dia inteiro). No entanto, o ‘case’ para carregamento é bastante eficiente.
  • Ecossistema restrito: ainda não existem aplicativos ou alguma interface que permite que desenvolvedores criem soluções para o Ray-Ban Meta.

Outra limitação para nós brasileiros é que no momento o Ray-Ban Meta ainda não está disponível oficialmente no Brasil 🇧🇷.

Na prática, temos os seguintes pontos de atenção:

  • Meta AI não “fala” Português: no momento que escrevo esse artigo, a Meta AI não compreende comandos em Português. De acordo com a Meta, novos idiomas serão implementados em atualizações futuras.
  • Meta View não está disponível nas lojas de aplicativos brasileiras: não é possível fazer o download do aplicativo que faz a sincronização com do smartphone com o óculos (para usá-lo foi necessário cadastrar uma conta na loja de aplicativos configurada nos EUA)
  • Preço: o valor de venda atual (300 USD), continua sendo uma barreira para acessar o produto no Brasil, especialmente devido à desvalorização da nossa moeda. No entanto, no setor tecnológico, frequentemente a popularidade de um produto pode levar à redução de seu preço. Além disso, a entrada de novas marcas no mercado, introduzindo dispositivos similares, pode fomentar uma competição que resulte em preços mais baixos. Isso vai ser fundamental para que essas aplicações em educação possam escalar.

Conclusão

Ao preservar o design e ao mesmo tempo incorporar diversas inovações que irão inspirar nossa relação com interfaces com I.A, a Ray-Ban e a Meta conseguiram criar um produto único.

Confesso que Ray-Ban Meta é o primeiro modelo de uma longa lista de óculos “inteligentes” que eu consideraria usar no meu dia-a-dia. Ainda que o produto apresente limitações, o Ray-Ban Meta é fruto de um enorme esforço de uma equipe multidisciplinar de pessoas. O que ele entrega hoje já é suficientemente útil em uma série de casos que eu gostaria de utilizá-lo.

Nos exemplos relacionados à educação que apresentei, é importante notar que nenhum dos testes realizados foi perfeito desde o início. Ainda há um longo percurso de desenvolvimento necessário para que essas demonstrações evoluam para produtos confiáveis e adequados ao contexto educacional. O propósito de compartilhar esses exemplos foi expressar meu entusiasmo por um tipo de interface que, na minha opinião, possui um grande potencial ainda inexplorado.